sábado, 29 de setembro de 2012

E olhares profundos e compenetrantes podem acontecer a qualquer hora e lugar, só basta para isso três pares de olhos atentos e brilhantes. Dois diretamente interessados no processo e mais um a observar o brilho radiante dos outros dois.

O dono do circo é sempre o palhaço

Hoje tem espetáculo? Tem sim senhor! E quando ele termina para onde vão os palhaços? E quando o palhaço tira sua máscara colorida e divertida o que é feito dele? O palhaço chora? O palhaço rir ainda mais? O palhaço fica só? O palhaço terá família ou ficará ainda mais só a espera da volta do seu público no próximo espetáculo? Ao que me parece o palhaço solitário e que vive em busca de um picadeiro central para dar razão a sua vida, precisa de risadas para viver, precisa dos aplausos, precisa sentir o calor do público. Mas será que a este silenciamento (entendendo que o silenciamento é diferente de silêncio, pois é um silêncio forçado) não se teria alternativa? Porque o palhaço decidiu por solidão e não por solitude? Porque não continuar o espetáculo ao lado de uma palhacinha que lhe encha de risadas e alegrias, que se proponha a divertir sua vida todos os dias e chateá-la também quando necessário, afinal ninguém é 100% palhaço. Rirem juntos e se aventurarem, sentir emoções para além do picadeiro. Todavia, o palhaço não quer e prefere continuar o seu espetáculo sozinho em sua vida pessoal, e, acompanhado nos dias de show, só consta mencionar que, todo o público vai embora e só volta conforme o seu interesse e necessidade, ele não pensará em você fora do palco, não rirá das tuas lembranças e nem cuidará da tua solidão. Mas o palhaço continua só, e nos dias em que o circo não funciona, se recosta em seu quarto e diante da tela põe sua máscara virtual e continua o espetáculo digital, porque o show da vida não pode parar.

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Receita de Ano Novo



Para você ganhar belíssimo Ano Novo
cor de arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação como todo o tempo já vivido
(mal vivido ou talvez sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser,
novo até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens?
passa telegramas?).
Não precisa fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar de arrependido
pelas besteiras consumadas
nem parvamente acreditar
que por decreto da esperança
a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando
pelo direito augusto de viver.
Para ganhar um ano-novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo de novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.


Carlos Drummond de Andrade